quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Preservando patrimonio históricos para viver melhor


Foi preciso mais um Casarão histórico do Século XIX, o Solar dos Macambira, cair para as coisas começarem a mudar.Mas agora poderemos ter um instrumento para vigiar, proteger e revitalizar o Patrimônio Histórico e Cultural de Santarém.

Dez de novembro de 2014 foi o fim de um processo muito importante e renovador para as relações entre Estado e Sociedade na Cidade de Santarém.

Depois de uma “Caminhada Velório” pelas ruas de nosso centro histórico, numa demonstração de vigor e indignação promovida pelo Movimento Arte e Cultura de Santarém, e convocada pelas redes sociais, temos uma Lei de Preservação do Patrimônio Histórico e Cultural.

Não conheço outra cidade no Brasil, algumas sem a mesma importância estratégica na geopolítica da colonização e com patrimônios históricos menos relevantes, que não tenham uma Lei de Proteção ao Patrimônio.O Brasil é rico de exemplos de cidades que se reinventaram economicamente em razão de decisões como essa.

Quem não conhece ou não viu pela televisão imagens de Ouro Preto, Mariana e Tiradentes, em Minas Gerais, Olinda, em Pernambuco, ou Parati, no Rio de Janeiro.E é em Parati que se realiza o maior evento literário do país, a Feira Literária Internacional de Parati, a FLIP. Seus principais atrativos, suas histórias e sua arquitetura preservada.

História recontada pelo casario antigo, com finalidades comerciais apropriadas e que dão vida e sentido aos imóveis.São bens que restauram as sensações de viver e fazer, da cultura de séculos anteriores. Que elevam a auto-estima da população sobre viver naquelas cidades.

Tenho dito a meus alunos, estudantes de Jornalismo do Iespes ou no Parfor/UFOPA, que a região de Santarém, no Ano Mil, quando a Europa passava por uma época dura de perseguição religiosa e trevas da Idade Média, com a Inquisição, vivia o esplendor da sofisticação de um grande cacicado, com sua cerâmica tapajônica de beleza singular e com grande complexidade social e cultural.

Santarém e o Ciclo da Borracha, Santarém e o Ciclo da Juta, tão bem descrito em A Semente do Sol, de Ademar Ayres do Amaral, as transformações na vida e cultura que marcaram o desenvolvimento da cidade, essas marcas, que estão ainda vivas, poderão ser preservadas e revitalizadas pelo mecanismo criado pela Lei do vereador Marcílio Cabral.

As ações de turismo na região poderão ter outras abordagens como conhecer o que foi a escravidão nessa parte da Amazônia, assunto ainda não muito estudado; a chegada, fixação e colaboração dos confederados do sul dos Estados Unidos, interesse que me parece evidente do prefeito, um Wanghon.

Com a sanção da Lei do Patrimônio Histórico e Cultural de Santarém a cidade poderá pleitear recursos para a preservação e revitalização de sua história, guardada em imóveis e ruínas por todo o município.O PAC das Cidades Históricas é uma oportunidade que, sem essa Lei, era inacessível.

Mas cabe dizer que o mais importante foi essa manifestação da cidadania que foi às ruas, conquistou o apoio da imprensa e depois a articulação com o Poder Executivo e Legislativo.

Destaco o papel do Movimento Arte e Cultura de Santarém, com os artistas da cidade, o Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós – IHGTap e também do músico Eduardo Dias, da SEMC, e que contribuiu muito na elaboração do texto da lei, sempre em consulta às entidades da sociedade civil.

Também cabe elogiar a Câmara dos Vereadores de Santarém que reagiu em tempo recorde. Ao vereador Marcílio Cabral, que demonstrou muita humildade e vontade política para o consenso, assim como a determinação da relatora, vereadora Ivete Bastos, e também do presidente da Câmara, Henderson Pinto.

Uma história que, tendo a lei sancionada pode impulsionar uma agenda positiva para a cidade, uma renovação de ânimo para que o Santareno olhe de forma diferente para o que existe de singular no lugar que vive, a importância de sua história e de seu patrimônio cultural.* É historiador e professor universitário em Santarém.


Por: Paulo Lima

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