quarta-feira, 29 de abril de 2015

Debate de direitos LGBT lota fórum da Conferência de Direitos Humanos

Debate lotou auditório e foi transmitido por telão para duas salas igualmente lotadas 

Brasília – As questões atuais e os desafios da militância guiaram o fórum Direitos LGBT na manhã desta terça-feira (28) durante a VI Conferência Internacional de Direitos Humanos, na capital paraense. Diogo Monteiro, presidente da Comissão de Diversidade Sexual e Combate à Homofobia da OAB de Pará, coordenou o encontro, que teve como expositores Maria Berenice Dias, Fabiano Gontijo e José Roberto Chaves Paes.

Presidente da Comissão Especial da Diversidade Sexual da OAB Nacional, Maria Berenice apresentou os avanços da questão LGBT no Brasil, mas apontou os problemas que ainda existem. “Temos um sistema jurídico que proíbe a discriminação, mas não inclui a por orientação sexual e de identidade de gênero. A homofobia existe, fruto da nossa educação cristã, mas temos que ter mecanismo que inibam as suas manifestações” afirmou.

A ex-desembargadora do Rio Grande do Sul explicou que os advogados foram os responsáveis pelas grandes mudanças, inclusive levando à mudança de carreira. Após fundar o primeiro escritório especializado em direito homoafetivo, Maria Berenice conseguiu a criação da Comissão de Diversidade Sexual da Seccional gaúcha, levando à abertura de mais de 300 semelhantes em todo o Brasil, inclusive na OAB Nacional.

“Quando teve julgamento no STF sobre o reconhecimento de casais homoafetivos, criamos o conceito de famílias, que são criadas por afeto. As comissões, inclusive, foram além e elaboraram o projeto do Estatuto da Diversidade Sexual, que propõe a mudança da Constituição para acabar com diferença entre licença maternidade e paternidade (virar licença natalidade) e a criminalização da homofobia inclusive com o coautor”, explicou. “Temos que continuar unidos, fazendo barulho, conseguindo avançar. A responsabilidade pela construção de um país mais inclusivo é de todos nós.”

Fabiano Gontijo, professor da pós-graduação em antropologia da Universidade Federal do Pará, traçou panorama dos estudos acadêmicos sobre questões LGBT no Brasil, desde a década de 30. “Observa-se três grandes áreas de estudo. Primeiro, as áreas biomédicas, como psicologia e afins, tipificando as práticas como patologias. Depois nas grandes áreas do conhecimento humanos, como filosofia. A terceira área, na área de literatura, com número extenso de obras que abordam as experiências sexuais de acordo com os setores da sociedade”, explicou.

A partir da década de 2000, segundo Gontijo, começaram a ganhar destaque, ainda que timidamente, trabalhos relacionados ao lesbianismo, à sexualidade feminina e à transexualidade. “Num mundo em processo de transformações, os estudos realizados em universidades são essenciais. Academia tem tornado articular os eixos de diferenciação, pensando os movimentos em bases não apenas sociais, mas também culturais”, disse.

No mesmo sentido, o coordenador da mesa, Diogo Monteiro, afirmou que é importante cada estudante e pesquisador, dentro de seu campo de estudo, aprofundar o entendimento das questões LGBT, abordando aspectos fora do espaço urbano e de segmentos específicos, como os bissexuais e os intersexuais.

O coordenador da Região Norte da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT), José Roberto Chaves Paes, apresentou histórico da militância brasileira na área, considerando a data de 17 de maio de 92 o início da fase contemporânea, quando a homossexualidade foi retirada da CID (Classificação Internacional de Doenças e de Problemas Relacionados a Saúde).

“Se o Congresso Nacional não permite o avanço da cidadania de vários grupos sociais, batalhamos e criamos projetos para que estados e municípios se mexam. O Congresso vem na contramão dos avanços do Judiciário”, explicou. “Muita coisa já foi construída. Nossa bandeira de hoje está em torno do processo de criminalização da homofobia e necessidade do reconhecimento da identidade trans.”

“Há necessidade também que possamos politizar as manifestações. Brasil é o país que mais realiza paradas LGBT, mas que tem aspectos mais culturais do que políticos reivindicatórios. Somos comunidade com histórico de direitos violados, isso não vai acabar amanhã ou com a evidência de alguns personagens na novela e o número de paradas, apenas com instrumentos de engajamento. Essa tem que ser uma luta da sociedade, fruto que nossos filhos e netos vão herdar como sociedade mais aberta e democrática”, finalizou.

Após as apresentações dos debatedores, foi aberto espaço para participação da audiência, acontecendo inclusive uma performance artística sobre a morte da população LGBT no Brasil. O conselheiro federal Siqueira Castro, que relatou a proposta do Estatuto da Diversidade Sexual na OAB Nacional, afirmou que o Brasil deveria apresentar junto à Corte Interamericana de Direitos Humanos o caso da travesti Verônica Bolina, que sofreu diversos tipos de agressões após ser presa em São Paulo.

Houve também comentários e sugestões sobre o atendimento médico prestado à essa população, principalmente questões de saúde das lésbicas, os controversos projetos de “cura gay”, o tratamento dispensado no sistema penitenciário e educacional, além da importância da militância diária de cada um.

Fonte: OAB - Conselho Federal

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